Pantera Negra - Exu ou Caboclo?
Por Ras Agdeabo, retirado do Jornal de Umbanda Sagrada
No rico universo místico da Umbanda, existem entidades pouco conhecidas e estudadas. Com o tempo, é natural que algumas delas sejam esquecidas por nós. Uma delas é Pantera Negra, celebrado por uns como caboclo e por outros como exu.
Seu Pantera era mais conhecido pelos umbandistas de antigamente, quando muitos terreiros eram de chão batido, caboclo falava em dialeto, bradava alto e cuspia no chão.
Nas sessões ele comparecia sempre sério, voz de trovão, abraçando bem apertado o consulente que atendia. Não gostava muito de falatório, queria mesmo é trabalhar.
O tempo foi passando e raramente o encontramos nos centros, tendas e outros agrupamentos de nossa Umbanda. Aonde terá Seu Pantera ido ?
O falecido Pai Lúcio de Ogum (Lúcio Paneque, de querida memória), versado nos mistérios da esotérica Kimbanda, que se diferencia da popular Quimbanda e está distante da vulgar Magia Negra, dizia que Pantera Negra era chefe de uma Linha de Caboclos que atuam na Esquerda.
Estes caboclos, explicava Pai Lúcio, eram espíritos oriundos de tribos brasileiras muito isoladas e desconhecidas, ou de tribos das ilhas do Caribe, Venezuela, México e mesmo dos Estados Unidos.
Índios fortíssimos, arredios e alguns até brutos, às vezes gostam de marcar seus "cavalos", ordenando que coloque na orelha uma pequena argola e no braço uma espécie de pulseira de ferro.
Ainda costumam receber suas oferendas em encruzilhadas na mata, na vizinhança de uma grande árvore. Podem ser assentados em potes de barro com ervas especiais, terra de aldeia indígena e outros elementos secretos, que são consagradas por sacerdotes iniciadas nos mistérios destes espíritos. Pai Lúcio ainda dizia, que a maioria dos médiuns destes caboclos são homens.
Os mais conhecidos, além de Pantera Negra, são : Caboclo Pantera Vermelha, Caboclo Jibóia, Caboclo Mata de Fogo, Caboclo Águia Valente, Caboclo Corcel Negro e Caboclo do Monte.
Alguns irmãos umbandistas conhecem estes trabalhadores astrais, com o nome de Caboclos Quimbandeiros.
Pantera Negra aparece como caboclo e exu, mesmo fora da Umbanda. Na região Sul do Brasil, principalmente, o encontramos dentro de um grupo muito especial, chamado de Caboclos Africanos.
Ali ele se manifesta com o nome de Pantera Negro Africano, ao lado de Arranca-Caveira Africano, Arranca-Estrela Africano e Pai Simão Africano, entre outros. A maneira de atuar destes entes é muito parecida com a dos Caboclos Quimbandeiros, sendo confundidos com freqüência.
Alguns adeptos e médiuns que trabalham com estas entidades, acreditam que é o mesmo Pantera.
Porém Seu Pantera Negra vai além. Seu culto é encontrado nos Estados Unidos e no Caribe, como tive a oportunidade de conhecer, dentro do Xamanismo Nativo, Santeria Cubana (ou Regla de Ocha) e Palo Monte.
Lembro de David Lopez, um santero de Porto Rico. Quando ele fez dezesseis anos, sua tia, Dona Carita, o levou a uma festa de Orixá e ali ele desmaiou. Aconselhado por um babalawo, David resolveu fazer o santo. Antes da iniciação a seu Orixá, como de costume no Caribe, foi celebrado um ritual em honra aos ancestrais (eguns). Na celebração, incorporou em nosso amigo um espírito de índio bravíssimo... Batia muito no seu magro peito e vociferava como se estivesse em uma guerra. Quando foi pedido o seu nome, disse o indígena : sou Pantera Negra !
Vi o mesmo tipo de transe aqui no Brasil, em raros médiuns de Seu Pantera, como o querido irmão Mário (Malê) de Ogum, sacerdote umbandista.
No Haiti ele é conhecido como Papa Agassou (Pai Agassou) e aparece como uma negra pantera e não mais como índio.
A tradição considera que ele veio da África, da região do antigo Dahomé, onde era celebrado como totem e protetor da Casa Real. O primeiro nobre desta linhagem, contam os mais velhos, foi um homem-fera, pois tinha pai pantera e mãe humana.
Agassou é muito temido, pois é profundamente justo e não perdoa os fracos de caráter. Poucos médiuns conseguem suportar a incorporação dele ou de outros espíritos da família das panteras. É necessário muita preparação, firmeza de pensamento e moralidade. Do contrário, e isto realmente acontece, o médium começa a sangrar muito durante a incorporação. É terrível.
Em outras ilhas do Caribe, também encontramos seguidores de Pantera Negra. Alguns o invocam como espírito indígena e outros como uma força africana, meio homem, meio felino.
No Brasil, ouvi as mesmas recomendações de pessoas que cultuam ou trabalham com Pantera Negra. Pai Lúcio me disse, que os aparelhos de Seu Pantera não costumavam beber, falar demais ou serem covardes. Eram disciplinados, verdadeiros guerreiros modernos.
Em certos rituais de Pajelança Cabocla, podemos ouvir o bater incessante do maracá e o chamado do pajé, que canta :
YAWARA Ê !
YAWARA Ê !
HEY YAWARA,
YAWARA PIXUNA,
PIXUNA Ê, YAWARA,
YAWARA, YAWARA !
Yawara Pixuna, quer dizer Pantera Negra. Alguns traduzem como Onça Negra. O canto acima, pode ser utilizado para afastar espíritos maléficos, que fogem ao ouvir este nome mágico.
Caboclo ou Exu, Pantera ou Onça, brasileiro ou estrangeiro, ele é mais um mistério que Zambi animou. O tempo passa, mas Pantera Negra ainda persiste.
SALVE PANTERA NEGRA !
RECEITAS TRADICIONAIS
PATUÁ DE PROTEÇÃO "PANTERA NEGRA" (Obeah - Caribe)
- um imã pequeno
- um pouco de limalha de ferro
- uma pedra de azeviche
- uma Cruz de Caravaca pequena
- uma bolsinha de couro preta.
Em uma noite de Lua Cheia, colocar tudo na bolsinha e fechar. Rezar a Pantera Negra pedindo proteção. Acender uma vela verde normal e um charuto forte (de capa escura) como oferenda, depois da oração. A bolsinha fica ao lado da oferenda, até o dia seguinte.
BANHO DOS ESPÍRITOS PANTERAS - para a sorte e proteção (Magia Vodu - Haiti)
- três colheres de sopa de mel
- três copos de licores diferentes
- três garrafas de água mineral (ou de rio)
- três raminhos de canela
- um pouco de arruda
- três velas (verde, amarela e vermelha).
Faça um triângulo com as velas e as acenda. Coloque ao lado de cada vela, uma garrafa de água aberta. Peça aos poderosos espíritos panteras para consagrarem as águas. Quando as velas terminarem, despeje as garrafas em uma tina ou balde limpo. Ferva a canela e a arruda separadamente em meio litro de água. Adicione esta mistura na tina de água e coloque o mel. Misture e tome um banho.
PURIFICAÇÃO DA CASA OU LUGAR DE TRABALHO ESPIRITUAL, INVOCANDO PANTERA NEGRA E PANTERA VERMELHA (Xamanismo Mexicano)
- um pouco de pólvora
- uma garrafa de marafo com três raminhos de canela dentro (curtidos dentro da garrafa por três semanas)
- um pouco de alpiste
- um pouco de olíbano.
Em um prato limpo e branco, colocado atrás da porta principal, fazer uma pequena cruz de pólvora e queimar (com muito cuidado). Depois de queimada a pólvora, regar o prato com um pouco de marafo com canela. Invocar a proteção de Pantera Negra, Pantera Vermelha e a Legião dos espíritos panteras, pedindo limpeza astral e purificação do lugar. Em um vasinho de barro, queimar carvão e jogar dentro um pouco de alpiste e olíbano. Defumar todo o ambiente. Despachar as cinzas e o prato longe de casa. O marafo restante, pode ser usado para benzer as pessoas do lugar.
COMO BENZER COM O MARAFO :
- Fazer uma cruz no pulso esquerdo e direito da pessoa a ser benzida.
- Em seguida, fazer uma cruz na testa e dizer :
PANTERA NEGRA, PANTERA VERMELHA,
FORÇA, SAÚDE E BEM-ESTAR,
A LEGIÃO VAI TE DAR !
PANTERA NA TERRA, PANTERA NA ÁGUA,
PANTERA NO FOGO E PANTERA NO AR,
TE BENZO COM POVO DE JAGUAR !
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